sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

COR E DOENÇA

Walkiria Assunção
Não so do pai aprendeu Antônio Francisco os princípios de sua arte, mas também de um artista português na época trabalhava como gravador de moedas, na Casa de Fundição de Vila Rica: João Gomes Batista. Assistindo de perto à criação artística, primeiro de seu pai, depois de João Gomes, o menino mestiço foi-se deixando fascinar pela arte de planejar igrejas, esculpir e entalhar.
Foi difícil obter o reconhecimento de seu talento. A gente da época não lhe perdoava a condição de mestiço. Mesmo quando a força de seu gênio acabou por impô-lo como escultor e projetista admirável, a cor mulata ainda mantinha erguidas as barreiras do preconceito. Em muitos de seus trabalhos, feitos para confrarias e irmandades de brancos, não lhe foi permitido assinar sua obra nem os livros de registros de pagamentos.
Quando sua fama, apesar de tudo, chegou a outras cidades e sua obra se encontrava em pleno esplendor, a doença o atacou. Lepra, sífilis ou reumatismo deformante, não se sabe ao certo, a terrível enfermidade fê-lo perder todos os dedos dos pés e obrigou-o a andar de joelhos. Dos dedos das mãos, restaram-lhe apenas os indicadores e os polegares. Mesmo doente, Antônio Francisco não intenrropeu sua atividade artística. Um escravo seu, de nome Maurício, levava-o a toda parte e atava-lhe às mãos o cinzel e o martelo.
Em 1814, sua vida de sofrimentos e magoas chegou ao fim. O laborioso artista foi interrado numa vala comum da Confraria da Boa Morte, em Vila Rica. No atestado de óbto, figuram, ao lado de seu nome, apenas duas palavras: pardo, solteiro.

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