sábado, 23 de janeiro de 2010

CONGONHAS DO CAMPO, SEU MUSEU















Walkiria Assunção
As imagens, sacras realizadas pelo Aleijadinho se caracterizam pelo colorido invulgar, pela leveza, simplicidade e dinamismo. Dois conjuntos de obras escultórica atraem mais atenção e provocam maior admiração. Ambos estão no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo.
O primeiro é o da Via Crucis, representada nas sete capelas da rampa. São 66 figuras, todas de madeira(cedro), em tamanho natural.
O segundo grupo é o dos profetas do adro de Congonhas do Campo. Embora danificadas pelo tempo, as estátuas mostram toda energia e o talento do artista. São doze figuras, pouco maiores que o tamanho natural. As formas imitam trajes da época dos profetas, segundo as gravuras bíblicas. As estátuas são muito parecidas uma com as outras. Apresentam toda um agudo perfil, as mãos em atitudes semelhantes.
O grupo dos profetas fou executado em estetita ou pedra- sabão, abundante na zona do ouro. Esse material foi largamente utilizado pelo Aleijadinho também em umbrais e medalhões de frontispício. A pedra sabão presta-se bem à escultura, por ser de consistência macia e fácil talha. Não é, porém muito resistente. Contém veio de ferro, que, quando se oxidam, provocam sua fragmentação.
O Aleijadinho fez ainda algumas estátuas de santos: São Simão Stock, São João da Cruz, São João Batista e São Jorge. Está última, em madeira, foi elaborada para acompanhar a procissão de Corpus Christi. Vinha montada a cavalo, presa ao selim por parafusos. As pernas flexionavam na altura dos joelhos, por meio de charneiras ou dobradiças.
SUA OBRA, SEU LEGADO
Na arquitetônica, o Aleijadinho demonstra uma beleza muito significativa para a época. A maioria dos grandesa de seu tempo eram engenheiros militares. As plantas e fachadas por eles projetadas guardavam ainda muito da tradição colonial de construir edifícios que fossem sobretudo resistentes. Quase não havia cuidados com a parte estética.
O trabalho do Aleijadinho, no setor de arquitetura, consistia em traçar a planta do edifício a ser construído e supervisionar a construção. Relizada a obra, fazeia, às vezes, trabalhos de acabamento. Dava seu toque de mestre aos frontispícios decorados às portas, imagens e púlpitos. E esse toque inconfundível criou um estilo que é so seu, embora muitos arquitetos e estatuários tentassem imitá-lo.
Sua obra permanece como o testemunho do desenvolvimento artístico de Minas Gerais no século do ouro. A quantidade e a mestria de suas realizações, tanto na arquitetura como na escultura, levavam seu biógrafo francês, Germain Bazin, a chamá-lo de "Michelangelo tropical", aproximando-o, assim da grande figura do Renascimento italiano.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

EM VILA RICA, SUA ARTE















Walkiria Assunção
Em Vila Rica situam-se várias capelas projetadas e decoradas por Antônio Francisco. Uma delas, a da Confraria dos Negros de São José, da qual era membro, teve as obras iniciadas por volta de 1773. No ano interior, o Aleijadinho havia feito a planta da Capela-mor.
A Capela da Confraria de Nossa Senhora das Mercês e dos Perdões, mais conhecidas como Mercês de baixo, tem proporções de igreja. O Padre João Fernandes, sob cujo patrocínio foi das Mercês e Redenção dos Cativos.
NAS MINAS, SUAS IGREJAS
Não so por Vila Rica estão espalhados os testemunhos da arte arquitetônica de Antônio Francisco Lisboa, mas também pelas cidades vizinhas: Tiradentes, São João del-Rei, ´Sabará, Morro Grande, Congonhas do Campo.
Em São João del-Rei, o Aleijadinho projetou a capela da Confraria dos Terceiros de São Francisco, iniciada em 1773 e inaugurada, em parte, no ano seguinte. Incumbiu-se também da decoração externa e interna do templo.
Na cidade de Tiradente, antiga Vila de São José do Rio das Mortes, o Aleijadinho elabourou o projeto da fachada para a matriz de Santo Antônio. O trabalho, que incluía o plano da porta e das tôrres, data de 1810. O restante da matriz não é obra sua.
Em Sabará, a Ordem Terceira do Carmo, em 1762, decidiu construir sua capela. As obras foram iniciadas no ano seguinte. De planos do frontispício da igreja, executado por outro mestre de obras.
Em 1779, entregou esculturas de São Simão Stock. Dois anos depois, executou a balaustrada, o coro e os púlpitos.
A matriz de Morro Grande é uma reedificação da antiga igreja de taipa, que datava de 1713. O Aleijadinho participou da decoração, esculpindo uma imagem de São João Batista para o fontispício. Não se sabe ao certo se é dele também a nova planta.Parece que não é obra sua.
Em Congonhas do Campo, planejou o Santuario de Bom Jesus de Matosinhos, cujas obras foram iniciadas em 1758. Vários artífices participaram e sua contribuição está anotada no Livro de Receita e despesa do Santuário. à frente existe um adro, em forma de terraço, ornado por doze estátuas de profetas. Ao adro conduz uma rampa, ladeada de sete capelas, que contém cenas da Pixão de Cristo, os chamados passos sacros ou Via Crucis.
SÃO FRANCISCO, SUA OBRA PRIMA.
Em 1765, a Ordem Terceira de São Francisco de Assis da Penitência, estabelecida em Vila Rica, decidiu construir uma capela. Cinco anos depois, obteve a licença do rei para realizar seu projeto. E encarregou o Alejadinho de fazê-lo. A construção foi iniciada em 1776 e concluída em 1794.
O artista traçou a planta a talha e a escultura do frontispício. Fez os dois púlpitos, nos quais esculpiu figuras de santos. Dele são também a pia batismal, as imagens das Três pessoas da Santíssima Trindade e dos anjos que adornam o altar principal. Todo o teto da capela-mor é enfeitado de esculturas suas.
Por seu trabalho, o Aleijadinho recebeu a quantia de um conto e setecentos e oitenta e oito mil réis, sendo catorze mil e quatrocentos réis referentes ao projeto da nova portada, e o restante do pagamento pelo plano da tribuna do altar-mor e pela talha. Esses dados estão registrados nos livros de contas da Ordem. Um pouco de dinheiro por uma obra prima.
A simplicidade das formas da Igreja de São Francisco lembra ainda, vagamente, as tradições coloniais de construção, no que diz respeito ao aproveitamento das formas. A portada completa-se com um medalhão onde se insere a imagem de São Francisco de Assis. O conjunto da fachada apresenta-se como um delicado bordado sobre pedras.

O SÉCULO XVIII, SUA ÉPOCA
















Walkiria Assunção
Na primeira metade do século XVIII, as construções religiosas em Minas Gerais eram sobretudo de igrejas paroquiais. Na segunda metade, passaram a predominar as confrarias e irmandades.
Quando o Govêrno tomou severas medidas para evitar o contrabando do ouro, impôs à Igreja que so permanecessem na Capitania das Minas Gerais os padres que realmente estivessem na assistência religiosa de seus paroquianos. Muitos padres que não conseguirão justificar sua permanência na zona da mineração se juntaram, então, em confrarias e irmandades religiosas. Estas em número cada vez maior, contribuíram para que as construções religiosas, em Minas, fugissem ao esquema tradicional, em que cada ordem edificava sua igreja segundo um tipo estabelecido. A criação artística, desse modo, libertou-se das imposições que regulavam a construção religiosa no século XVIII.
à medida que a situação econômica da Capitania melhorava, graças ao ouro, igrejas e conventos deixavam de ser construídos em madeira ou taipa, para serem edificadas em pedra, cal e alvenaria. Por volta de 1740, madeira e taipa ja estavam ultrapassadas.
Foi nessa época, quando predominavam as ricas construções em alvenarias, e quando Minas liderava o movimento artístico da colônia, que o Aleijadinho desenvolveu sua atividade de arquiteto e escultor.

COR E DOENÇA

Walkiria Assunção
Não so do pai aprendeu Antônio Francisco os princípios de sua arte, mas também de um artista português na época trabalhava como gravador de moedas, na Casa de Fundição de Vila Rica: João Gomes Batista. Assistindo de perto à criação artística, primeiro de seu pai, depois de João Gomes, o menino mestiço foi-se deixando fascinar pela arte de planejar igrejas, esculpir e entalhar.
Foi difícil obter o reconhecimento de seu talento. A gente da época não lhe perdoava a condição de mestiço. Mesmo quando a força de seu gênio acabou por impô-lo como escultor e projetista admirável, a cor mulata ainda mantinha erguidas as barreiras do preconceito. Em muitos de seus trabalhos, feitos para confrarias e irmandades de brancos, não lhe foi permitido assinar sua obra nem os livros de registros de pagamentos.
Quando sua fama, apesar de tudo, chegou a outras cidades e sua obra se encontrava em pleno esplendor, a doença o atacou. Lepra, sífilis ou reumatismo deformante, não se sabe ao certo, a terrível enfermidade fê-lo perder todos os dedos dos pés e obrigou-o a andar de joelhos. Dos dedos das mãos, restaram-lhe apenas os indicadores e os polegares. Mesmo doente, Antônio Francisco não intenrropeu sua atividade artística. Um escravo seu, de nome Maurício, levava-o a toda parte e atava-lhe às mãos o cinzel e o martelo.
Em 1814, sua vida de sofrimentos e magoas chegou ao fim. O laborioso artista foi interrado numa vala comum da Confraria da Boa Morte, em Vila Rica. No atestado de óbto, figuram, ao lado de seu nome, apenas duas palavras: pardo, solteiro.

ALEIJADINHO


























Walkiria Assunção
No início do século XX, houve quem começasse a descrever da real existência de Antôni9o Francisco Lisboa. A duvida prendia-se ao fato de ser atribuída ao mestiço de Vila Rica uma quantidade excessiva de obras arquitetônicas e escultóricas. Não era concebível que um único homem pudesse ter realizado tantos trabalhos e com tal mestria. Após muitas discussões e investiga~ções, chegou-se à conclusão de que todo o imenso conjunto das obras atiuídas a Antônio Francisco Lisboa devia ser resultante do esfôrço congregado de uma equipe de artífices.
Mas a conclusão não foi, ao que parece, das mais satisfatórias. Novas e acuradas pesquisas foram feitas, estabelecendo-se que o Aleijadinho não havia criado todas as peças a ele atribuídas, mas pelo menos uma grande parte delas. Descobriu-se isso consultando inclusives livros da época, contas e registros das igrejas para as quais ele trabalhara.
E, na pista da obra de Antônio Francisco Lisboa, levantou-se também sua biografia.
MANUEL FRANCISCO, SEU PAI.
A Portugal foram ter notícias da sua côlonia na America. Todas descreviam o Brasil como o paraíso sobre a terra. O lugar do ouro, da riqueza fácil, da natureza gentil, do clima suave. Muitos portuguêses largaram tudo, fizeram as malas e tomaram o rumo do sul. Um deles foi Manuel Francisco Lisboa, mestre em carpintaria. Escolheu para morar a capital da Capitania das Minas Gerais, Vila Rica, bem sobre a zona do ouro. Ali chegou em 1728 e logo encontrou trabalho, não só de carpintaria, mas também e sobretudo de arquiteto e escultor.
Sua primeira obra no Brasil foi a planta da matriz de Antônio Dias, bairro da Vila Rica. Esculpiu em madeira uma grande série de imagens religiosasa. Trinta anos de sua vida dedicou a esse tipo de trabalho, jamais abandonando a tônica sacra. Sua última obra foi realizada em 1766: o plano da capela da Ordem Terceira do Carmo, em Vila Rica.
Dois anos após ter-se estabelecido em Vila Rica, Manuel Francisco esposou Antônia de São Pedro, que lhe deu quatro filhos. Um deles, Antônio Felix de Sousa, ordenou-se padre e segiu, na arte, os passos de seu pai. A Igreja de Nossa Senhora do Rósário, em Vila Rica, tem mostra de seu trabalho de esta´tuário.
Antes de seu casamento, segundo alguns, ou em 1738, segundo a maioria dos biógrafos, Manuel Francisco teve, de uma negra escrava, um filho natural, Antônio Francisco Lisboa. Ao bastardo transmitiu, além do nome, uma série de conhecimentos profissionais.